Ninho e Ovos de Dinossauros de Paimogo

Uma das grandes etapas da vida do GEAL - Museu da Lourinhã foi a descoberta dos ovos de dinossauro de Paimogo e a consequente publicação e divulgação que atravessou fronteiras, fez abrir noticiários em todo o mundo e foi considerada entre as 100 mais importantes descobertas científicas de 2007.

Há quinze anos, em Abril de 1993, andávamos a fazer prospecção de arqueologia. Já há vários dias que tentávamos compreender qual o percurso que os ceramistas faziam para a exportação da cerâmica produzida no Casal Paimogo. Connosco estava a nossa filha de três anos e eu dedicava-me, sobretudo, a dar apoio à menina.

Falava-lhe das pedras, das plantas e dos animais que íamos encontrando. Foi durante esses momentos de apoio que descobri a primeira casca de ovo, não maior que uma unha.Partindo do princípio de que a casca teria vindo escorrida de um ponto mais alto procuramos e descobrimos, de imediato, cinco ovos. Imagine um ovo cozido que levou uma palmada, ficou todo esmagado e foi metido na terra.

Estavam achatados, estilhaçados e castanhos. Ainda por cima, encontramos, associados, ossos de embrião! Devido a esta associação e à quantidade de material percebemos imediatamente que estávamos perante um legado comparável aos maiores da Europa. Passou-se um ano e só em 1994 começamos as escavações sob a orientação científica do Professor Telles Antunes e a orientação em campo de Horácio Mateus. Em 1995, depois da segunda fase de escavações, associamos ao nosso grupo de trabalho o Professor Philippe Taquet.

Eu e o Zé Filipe organizamos e orientamos o crivo e o laboratório de campo. A última escavação foi no Verão de 1996. Depois, foi necessário limpar, fotografar, estudar. Tivemos, para isso, o apoio da Universidade Nova de Lisboa onde, durante centenas de horas, fizemos triagem e limpeza das areias trazidas de Paimogo. E, por fim, em 21 de Junho de 1997, numa conferência de imprensa, fez-se a apresentação pública da descoberta. Com a publicação do artigo Couvée, œufs et embryons d’un Dinosaure Théropode du Jurassique supérieur de Lourinhã (Portugal).

Mateus et al., na Academia de Ciências de Paris, a comunicação social divulgava, a partir da Lourinhã, a notícia para todo o mundo. Nesse ano, o Museu recebeu milhares de pessoas que vinham, dos mais diversos países para ver os ovos de dinossauro.Eu passava muitas horas ao pé do ninho, em plena sala de exposição, a limpar os ovos. Estava munida com instrumentos “sofisticadíssimos”: um pincel, uma pinça, uma lupa e uma espátula metálica que o Zé Filipa preparou a partir de uma agulha de renda. Em Dezembro, a revista Expresso elegeu-nos, a mim e ao Horácio, a figura do ano a par de Lionel Jospin e, como acontecimentos do ano, a morte de princesa Diana e o mau tempo em Portugal.

Em Abril 1998, a Academia de Ciências de Lisboa abria, pela primeira vez, as portas a não académicos. O tomo XXXVII das Memórias da Academia de Lisboa, foi dedicado aos Paleoambientes do Jurássico Superior da Lourinhã, com diversos artigos de toda a equipa: Horácio Mateus, Miguel Telles Antunes, Philippe Taquet, Vasco Ribeiro, Isabel Mateus, Giuseppe Manuppella, Octávio Mateus, João Pais e Lígia Sousa.Em Setembro do mesmo ano, o volume 18 do Journal of Vertebrate Paleontology publicava um novo artigo Theropod dinosaur nest from Lourinhã, Portugal de Octávio Mateus. A partir daí todos os anos tem havido novas publicações científicas sobre os dinossauros da Lourinhã. Os ovos ainda dão que falar.

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